terça-feira, fevereiro 26, 2019

Até as árvores vêem estrelas

Existe um sussurro entre os dedos da floresta: Corre um boato que nem gnomos conseguem ouvir... 
O tilintar dos galhos, a vibração do chão escuro e doce faz com que o terno nectar da terra seja aproveitado por todas as raízes... a vida estende-se num metropolitano subterrâneo de segredos e sensações e aos olhos do eterno mortal, é apenas mais um dia que passa, mais umas horas que ficam para trás. Não há noite que não traga lua, nem dia que não traga sol... e raízes entrelaçam-se, amam-se, trocam pequenos segredos, fazem pequenos planos, cantam pequenos silêncios... encontram-se num emaranhar oceânico de novelos, enrolam-se, desenrolam-se, espreguiçam-se e crescem no tal abraço eterno que só quem vive reconhece... Sabemos que não há tempestade que não traga ira ou coração que traga amor... sabemos que as árvores são cegas, sabemos que os gnomos não voam, sabemos que sabemos tudo... sabemos que os olhos não sentem e que o vento não ouve, sabemos que  só à noite há estrelas e que as árvores não vêem... sabemos tudo...



O Circo...

E porque afinal só estamos de passagem... nada é velho nem novo, nem perene...nada é nada como um vento que sopra e desaparece... viajo muitas vezes numa carroça de circo, onde cavalos brancos puxam quase voando a trote por uma estrada de terra... o som do acordeão no tecto vermelho de lona com pinceladas de explosão de pipocas e gargalhadas ...o brilho de luz no túnel dos olhos o som de uma palma, e outra e mais outra... o trapezista ao fundo que voa numa rede sem fim...a magia do coelho que finta o mágico...e aquele rufar do homem bala, aquela hipnose de suspense, aquele friozinho que nos trespassa...e amanhã o circo avança, as estacas levantam e a magia viaja no trote do vento, no galopar da vida como uma roda ou uma passagem e a nossa carroça dourada vai para outras paragens onde nada é velho, nada é novo... porque o circo é a aventura da vida ...